Na
última semana, tive a oportunidade de percorrer as cenas de
violência que atingiram a cidade de Cabo Frio. Fui na madrugada de
domingo ao Muro de Pedra e vi o corpo do Marcelo estendido no seu
comércio, alvejado por duas balas pelas costas. Fui na quinta-feira
ao Parque Eldorado II e me solidarizei com a mãe da Anny, quatro
anos de idade, atingida por disparos na frente de sua casa, no colo
da mãe. Ainda no Eldorado II, passei por diversas barricadas de
fogo, socorri uma mãe aos prantos em crise nervosa na rua e vi
bombeiros darem meia volta, impedidos pelo tráfico de apagar focos
de incêndio, pela ausência do apoio da força policial.
Seguramente,
estas cenas não me saem da cabeça, não exitei em comunicar os
fatos e pedir providências ao Governador do Estado, ao
Presidente da Assembleia e ao
Secretário de Segurança. Porém, é preciso partilhar esta angústia
com o conjunto da sociedade e buscar redefinir o papel de cada um.
Lançar um desafio a sociedade de consumo que alimenta esta cadeia
econômica que tem como produto final esta guerra de pontos entre
facções que faz vítimas inocentes e torna toda uma comunidade
refém de uns poucos vitimados pela dependência e ausência de
oportunidades de trabalho e de formação.
É
preciso questionar a ausência do Estado, não apenas pela limitação
do aparelho policial, mas questionar o papel de cada esfera de
governo na oferta de oportunidades de educação, trabalho e saúde,
a fim de devolver a esperança e a expectativa de vida a cada pessoa.
Somos uma cidade rica e a riqueza traz contradições, é preciso
vencer a alienação da falsa alegria e cair na realidade de que
somos uma cidade sem oportunidades, onde o dinheiro público mal
aplicado ou aplicado sem um foco na geração de emprego, renda e
formação vai gerar conflitos e revolta.
É
preciso atrair os Governos Federal e Estadual para parcerias que
aumentem a capacidade de investimento do poder local,
interagir com o setor privado e atrair investimentos que tirem nossa
economia do marasmo, precisamos muito mais do que comércio,
Salineira e Prefeitura a gerar oportunidades na cidade.
A
lógica de multiplicar o número de policias não irá resolver
nossos conflitos, poderemos chegar a um policial por cidadão e
estaremos condenados ao fracasso. É preciso vencer a inércia e o
imobilismo, investir no homem, na valorização do cidadão e na
geração de oportunidades. Esta sim, a verdadeira política de
segurança.
Coluna
publicada na edição do dia 21/11/13 do jornal Folha dos Lagos